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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A gestalt-terapia


Gestalt é simplesmente uma visão, uma descrição do mundo, uma posição de onde as coisas são vistas de outro modo: uma perspectiva, uma colina e o vale que a continua. Gestalt é uma visão global, totalizadora, um paradigma holístico, um gesto ético, um canto à vida.

É também uma teoria, mas como as notas escritas, serve apenas de guia; como o bom instrumento, não esquece que mais importante que a ferramenta é a mão que a empunha; que mais importante que o mapa é o território que se percorre. Por isso também é humilde e pratica a humildade, considerando o óbvio, o simples, a superfície tão importante como as profundidades do mar; porque não há mais maravilhas no vale do que no leito do rio.

A Gestalt é uma travessia, um caminho compartilhado, uma senda, uma rota de volta à casa, um mistério que se revela em relação, em companhia. É a emoção, a dor profunda e agoniada do parto da vida, são as mãos ensangüentadas que ajudam a nascer, é a paixão, a coragem necessária para crer, para viver.

É, portanto, uma caminhada com "coragem", uma escolha, a coragem de aceitar os erros, a força para começar de novo, a vontade de mudar tudo, mesmo que seja um pouco. A Gestalt é querer, mas querer de verdade; é poder maravilhar-se com o cotidiano, percorrer os sótãos e os subsolos de nossa vida, dispostos a desenterrar os mortos e plantar as sementes.

É amar e amar-te, é não ter medo de confessá-lo, é pedir-te que me ajudes, é ajudar-te e colocar-te de pé, é reconhecer minha pele quando toco a tua, é entregar-me apesar de ter medo, é empunhar a espada para defender a bondade, é crer que a bondade existe, é viver para praticá-la. E, portanto, reconhecer a maldade que existe em mim, converter a batalha externa naquilo
que sempre foi: minha luta interior.

Por fim, é diferenciar a guerra, a violência nos homens, de minha luta por libertar-me; é devolver o que não é meu e reclamar o que me pertence. Gestalt é crer nas crianças, defender a que está dentro de nós, ajudar a que todas cresçam; é uma tarde de outono numa praça vazia, é ter-se perdido, ter sido violado.

Gestalt é como uma legião de sobreviventes caminhando e cantando, acreditando que apesar de tudo ainda é possível. É uma esperança de mudança, uma aposta no ser humano, uma prática, uma dança, um instrumento, noite, vinho e fogo. É como a maré que vai e vem, como o mar, às vezes manso e cristalino, às vezes agitado e turvo.

É o salto criativo, nu e vazio; tomar todas as precauções, e depois arriscar tudo. Gestalt é praticar a utopia, viver o cotidiano de um jeito não cotidiano; é converter-se em guerreiro, protetor da chama sagrada, reconhecer o mito pesoal que repete em cada um o drama universal do ser humano.

É aceitar nosso destino, não renegar o que nos coube viver, mas utilizá-lo; plantar no deserto e esperar que chova; e enquanto isso ... dançar, celebrar.

A Gestalt é uma forma de viver, é encarar a morte com temor e respeito; é a sabedoria que se adquire deixando-se morrer um pouco todos os dias. É ser cigano na Mancha, vinho, paixão, música e baile, sem pátria, sem lar, sem nada a perder, sem nada para defender. É uma estratégia para preservar a semente, é saber esperar para plantá-la, é cuidá-la enquanto cresce, colher na primavera para compartilhar os frutos.

É contar, noites fora, contos de sábios e mágicos a uma criança que sofre de dor, esperando que, de tanto "soprar", se apague sua agonia e ela adormeça. É amar este tempo que me é dado viver; deixar sair o belo animal que vive em mim, dizer-te sem pudor o quanto és linda, aceitar-te mãe, mulher, companheira, e saber diferenciá-las.

É saber ser homem e arriscar a ternura, reconhecer que filho e pai nascemos no mesmo dia; permitir que subas sobre mim, e me ensines os caminhos que conduzem a ti. Bem, a Gestalt é isto e não é, porque a totalidade é mais que a soma das partes.


Alejandro Spangenberg

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